Tenho profundo interesse no impacto dos líderes na vida das pessoas, tanto em relação a influência no desenvolvimento, no desempenho e bem-estar. Quando escrevo líder, a imagem em minha mente é de um ancião indígena sentado em círculo com sua tribo, onde todos estão dispostos a ouvir palavras e orientações sábias. Através do diálogo e da colaboração, os membros da tribo visualizam soluções para o problema em questão. Este processo de tomada de decisão abrange todos os seres vivos e o ecossistema que eles habitam. Quando vejo líderes hoje, em organizações de setores público ou privado, me pergunto onde nós, como seres humanos, perdemos o acesso ao nosso lugar de discernimento e conexão com os outros e com a terra?
Minha exposição profissional a líderes empresariais globais e seu poder de transformar as realidades, me levaram a escrever um estudo de caso. Explorei a experiência de um líder sênior de uma organização multinacional, que se moveu para um lugar de abertura para o desconhecido e vulnerabilidade, dando origem a uma transformação cultural. Minha pesquisa investigou através de entrevistas e documentos, o que o levou a este lugar de "não saber", também descreveu a resposta da equipe de liderança, incluindo 75 líderes em 18 países, e finalmente os efeitos dessa mudança na organização e no negócio.
Movendo-se para além do lugar conhecido
Ao experimentar um momento desafiador no negócio e um forte chamado à mudança, este líder se sentiu incapaz para resolver as coisas dentro do modelo de gestão clássico. Ele começou a imaginar um futuro com mais empatia, conexão entre pessoas e autonomia, com menos distanciamento e hierarquia. Neste estado de espírito, ele convidou o time de líderes para acessar um futuro desconhecido, que não refletia a continuidade do passado. Em uma conferência da liderança, ele expressou a necessidade de mudar, mas admitiu que não sabia como ou onde a jornada os levaria. Naquele momento, foi criado um espaço aberto, revelando o acesso a possibilidades nunca antes imaginadas.
Quando o líder sênior expandiu sua autopercepção para além da mente e do ego, tornou-se possível perceber a si mesmo e a organização, como parte de um todo maior. Neste processo, ele, sem se dar conta, iniciou uma transformação individual e coletiva.
A jornada de transformação coletiva pode ser bem ilustrada pela metáfora do canyon, porque representa adequadamente a fase descendente de abandonar sistemas de crenças antigas e chegando na parte inferior, onde uma identidade única pode ser revelada.
Além disso, mostra a metamorfose, um caminho ascendente, onde um novo ser coletivo é manifestado. Além disso, o canyon nos lembra de nossa conexão viva com a terra e a natureza e, consequentemente, nossa coparticipação no ecossistema.
A jornada de dissolução de liderança e o surgimento de "times de propósito"
Sem um plano definido, os líderes se reuniram para cocriar o futuro da organização. No processo, ocorreu uma viagem de autodescoberta. Eles descreveram a dor de dissolver o apego (mesmo que inconsciente) ao poder e controle, bem como sua auto-imagem com base no status, posição ou hierarquia. Eles também experimentaram o desenvolvimento da autopercepção e conexão com outros colegas a partir de um lugar além do ego.
A equipe de liderança tinha retiros projetados para autorreflexão, o que abriu portas para acessar níveis mais profundos de consciência. Uma vez que o líder sênior assumiu um lugar vulnerável, mostrando sua humanidade além da posição, outros também se sentiram confiantes para seguir esse caminho. Ao mesmo tempo, para enfrentar os desafios do negócio em andamento, os colaboradores começaram a cocriar times de propósito. Eles assumiram projetos além de seus papéis funcionais, sem liderança formal, atendendo às necessidades do negócio e servindo a um propósito comum.
O encontro com a alma da organização
Os líderes começaram a experimentar uma nova realidade interna e externa e se sentiam mais ligadas como uma comunidade, não somente em razão dos papéis profissionais. Além disso, os colaboradores sentiam-se psicologicamente seguros para liderar projetos e relacionar-se a partir de um lugar de confiança e liberdade mais profundos, o que permitiu a cocriação de projetos além das fronteiras dos departamentos. Silos foram dissolvidos, e a consequência foi uma sensação de interconexão, descrita pelos colaboradores pela expressão "somos um".
Este aspecto singular de conexão profunda foi descrito como um ambiente seguro para todos os membros da organização, permitindo o surgimento de uma nova cultura organizacional. Os colaboradores perceberam isso em termos de: autonomia, desenvolvimento humano, vulnerabilidade, colaboração, orientação ao propósito e empatia.
Uma cultura organizacional integrada
Como um processo de metamorfose, a organização foi aprendendo a incorporar sua identidade revelada. Isso foi possível quando os colegas acessaram sua inteligência coletiva, que impulsionou processos de decisão mais orgânicos e colaborativos. Isso permitiu que todas as vozes fossem ouvidas, independentes de papéis, posições ou áreas de especialização.
Colaboradores expressaram engajamento, satisfação e felicidade, enquanto os líderes sentiram que um fardo pesado foi retirado de seus ombros. Isso foi possível porque abriram o espaço para os colaboradores assumirem um papel protagonista, Neste contexto, tornou-se mais claro que o papel da liderança era apoiar o desenvolvimento das pessoas, e remover possíveis barreiras que impediam ou limitavam o andamento do negócio. Os líderes finalmente acreditavam em uma inteligência maior que movia a organização para seu alto desempenho. Os resultados do negócio mostram um crescimento consistente desde que a transformação foi iniciada.
A necessidade de se perder para encontrar novos caminhos
A nova cultura de interconexão foi revelada quando nunca procurada ou imposta. O líder sênior não tinha expectativa, mas sim uma intenção clara de conexão mais profunda que iluminou seu caminho e daqueles que seguiram a jornada. Às vezes, sentir-se perdido não é apenas normal, mas necessário. Leia a história de Georgia Wingfield-Hayes.
Nas primeiras fases da jornada de transformação, eu era parte do time de liderança no papel de gerente de Recursos Humanos. O impacto dessa experiência me levou a desconstruir meus antigos padrões pessoais e profissionais, permitindo novas formas de ser, me relacionar e trabalhar.
O resultado foi a minha decisão de explorar ainda mais a perspectiva além da mente e do ego, apoiando líderes para percorrer seu caminho autêntico e único.
A perspectiva além do ego como caminho possível para a liderança
Este estudo de caso oferece esperança e alternativas para o dilema da liderança atual: como acessar novas formas de saber, liderar e definir estratégias, que não seja um mero condicionamento das experiências passadas? O convite para cocriar o futuro emergente permitiu a esses líderes se despedirem de padrões antigos, dando origem a um eu coletivo único e autêntico. Esta experiência vivida nos sugere que há acesso a estruturas mais profundas de realidade e conhecimento direto através da conexão com algo além do conhecimento analítico e cognitivo.
Um passo além para futura exploração seria como os times que operam em níveis mais expandidos de consciência, abraçam as necessidades de todos os seres e do ecossistema, assim como faziam nossos ancestrais: as tribos indígenas.
Excelente texto. A reflexão a partir das possibilidades, do simples ato de admitir que não sabemos é libertador. Gostei muito de conhecer teu trabalho. Que sigas iluminando as pessoas.